No mundo do rock, muitas imagens são extremamente belas sem possuírem significado algum. Objeto de estudo dos fãs, algumas capas acabam ganhando muitos significados ao longo dos anos, num fenômeno que foge ao controle dos criadores da própria capa. É o caso do disco Abbey Road, dos Beatles, e sua famosa foto do quarteto atravessando a rua. Mas não é o caso de Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, que traz uma capa onde cada detalhe foi milimetricamente calculado para que o resultado trouxesse inúmeros significados sob o desenho que todos conhecemos.
Em 1973, o Pink Floyd ainda não havia encontrado o seu espaço no mundo da música. Mesmo possuindo uma boa base de fãs dentro da Grã-Bretanha, o grupo não conseguia grandes sucessos de vendagem e estava sendo engolido pelo sistema das grandes gravadoras. Os baixos lucros obtidos pela banda estavam dificultando a produção de shows mais elaborados e o espetáculo artístico do Pink Floyd estava sendo abalado pela falta de dinheiro. Neste clima de ódio contra o mundo capitalista, e ainda dolorido pela saída do ex-líder e principal compositor da banda – Syd Barret -, o Pink Floyd produziu um disco amargo, falando profundamente de feridas sociais como a soberba, o sentimento de posse, o orgulho e a megalomania. E tudo isso está, de alguma forma, na capa de Dark Side…, elaborada pelo coletivo Hipgnosis.
Segundo o Dicionário Aurélio, um prisma é um polígono 3D usado para refletir raios luminosos ou separar as cores do mesmo. Os estudiosos de ótica explicam que o preto é a ausência de todas as cores, e que a luz branca é a união de todas as cores possíveis. Logo, uma luz branca que atingisse um prisma atravessaria o objeto e sairia do outro lado transformado em uma espécie de arco-íris, com as sete cores básicas.
OK. Mas o que isso tem a ver com o rock?
Se as letras e a música de Dark Side of The Moon eram elementos complexos, a capa deveria retratar essa complexidade. Na imagem mais famosa do Pink Floyd, um feixe de luz, ao bater em um aparente espelho, se divide em uma porção de cores. Era como se o disco dissesse ao público que a sua música, embora parecesse um simples som, na verdade continha muito mais informações do que poderia julgar a vã filosofia.
A capa ainda esconde outros segredos interessantes.
De todos os detalhes envolvidos na capa, apenas um não possui base em estudos muito profundos. Na capa original, a luz branca se divide em seis raios coloridos, ao invés das sete cores tradicionais do arco-íris. Teria isso algum significado em especial? “Não. Na verdade, o azul escuro não ficou esteticamente bonito junto das outras cores e então resolvemos tirá-lo fora, porque a arte deve estar acima da ciência“, teriam declarado os próprios criadores, conforme consta na Bizz especial 100 Maiores Capas de Discos de Todos os Tempos, publicada em 2005.
Por ironia do destino, o disco, concebido para criticar o sistema de consumo mundial, acabou se tornando um sucesso entre os consumidores e deu ao Pink Floyd um status financeiro muito parecido com aquele que a banda criticava em suas músicas. Ainda na época de seu lançamento, entrou na Billboard 200 dos álbuns mais vendidos nos Estados Unidos. Hoje, já figura na lista dos mais vendidos da história, com mais de 50 milhões de cópias comercializadas.